Me lembro de uma declaração do técnico Carlos Alberto Parreira lá pelos anos 2000: se o futebol brasileiro se organizar, com certeza virará a “NBA do futebol”. O tempo passou, o futebol brasileiro não se organizou (pelo menos não dentro das nossas expectativas) e se hoje existe uma “NBA do futebol” ela fica do outro lado do Oceano Atlântico, nas terras dos nossos colonizadores, uns dirão que é a Champions League, outros dirão que é a Premier League, pouco importa para este texto. Negar que o futebol europeu é a maior potência do esporte atualmente é brigar com a realidade, é ficar igual o Vovô Simpson no episódio em que este sai no jornal brigando com uma nuvem. O futebol europeu está muito à frente do restante dos outros centros, em vários aspectos: financeiro, de estrutura, como entretenimento, esportivo, técnico, competitivo e tático. Nas últimas décadas têm conseguido atrair os melhores patrocínios, treinadores e jogadores no seu auge físico e técnico. Podemos discutir um monte de questões, como se existe moralidade nos interesses de muitos de seus investidores, mas também não é o caso aqui.
Fiz essa introdução sobre o futebol europeu, porque o papel coadjuvante de clubes e até seleções latino-americanas nos últimos torneios mundiais faz com que muita gente trate o futebol latino-americano como lixo. Mesmo a Argentina, campeã do mundo, só chegou lá porque, segundo essas mesmas pessoas, seus jogadores atuam no futebol europeu, no mais alto nível técnico e competitivo. Não é totalmente mentira, mas também não é totalmente verdade. O futebol é um esporte que move sentimentos, histórias. Se fosse uma questão de só quem é o mais rico ou tem mais títulos, bastaria todas as pessoas do mundo torcerem para o Real Madrid, e estaria decidido. E o fato do futebol latino-americano estar fazendo papel de coadjuvante nesses torneios não exclui a sua história gloriosa. E precisamos contar essas histórias, nos apropriar delas. Até porque esse domínio europeu dura muito tempo, mas provavelmente não durará para sempre. Houve uma época até que o futebol de clubes mais forte do mundo era o uruguaio, inclusive chegou a atrair grandes craques na década de 1930 (Leônidas da Silva jogou pelo Peñarol, por exemplo). O futuro é mistério, incerto, mas a história podemos conhecer.
Levando em consideração todos os mundiais reconhecidos pela FIFA (com Taça Rio 51, dois mundiais de 2000, com tudo), o maior campeão do mundo é o Real Madrid com 8 canecos. Em segundo lugar, Milan e Bayern de Munique com 4. Até aqui, supremacia europeia. Porém ao chegar nos clubes com 3 taças: Peñarol, Boca Juniors, Barcelona, Nacional, São Paulo e Internazionale. Ou seja, os sulamericanos Peñarol, Boca, Nacional e São Paulo empatados com os poderosos Barcelona e Internazionale, e possuem mais títulos mundiais que Juventus, Manchester United, Ajax, Porto e Liverpool. Não é um número pra se jogar fora.
Como os títulos mundiais do São Paulo e suas escalações são mais conhecidos do torcedor brasileiro, trago então, a título de curiosidade, as escalações dos tricampeões mundiais: Peñarol, Nacional e Boca Juniors.
1961: Maidana; Martínez, Cano, González, Gonçalves; Aguerre, Cubilla; Ledesma, Sasía, Spenscer, Joya. Técnico: Roberto Scarone
1966: Ladislao Mazurkiewicz; Juan Vicente Lezcano, Luis Alberto Varela, Pablo Forlán, Néstor Gonçalves; Tabaré González, Julio César Abbadie; Pedro Virgilio Rocha, Alberto Pedro Spencer, Julio César Cortés, Juan Víctor Joya. Técnico: Roque Gastón Máspoli.
1982: Fernández; Gutiérrez, Oliveira, Bossio, Morales; Diogo, Saralegui, Jair; Ramos, Morena, Silva. Técnico: Hugo Bagnulo.
1971: Manga; Masnik, Brunell, Ubiña, Montero Castillo; Blanco, Maneiro; Cubilla, Espárrago, Artime, Mamelli. Técnico: Washington Etchamendi
1980: Rodolfo Rodríguez; Daniel Enríquez, José Hermes Moreira, Juan Carlos Blanco, Washington González; Victor Espárrago, De La Peña, Arcenio Luzardo; Alberto Bica, Waldemar Victorino, Júlio César Morales. Técnico: Juan Mujica.
1988: Seré; Gómez, De León, Revélez, Saldanha; Ostolaza, Vargas, Lemos; Cardaccio, De Lima, Castro. Técnico: Roberto Fleitas.
1977: Santos; Pernía, Sá, Mouzo, Bordón; Benítez, Suñé, Zanabria; Mastrángelo, Pavón, Salinas. Técnico: Juan Carlos Lorenzo.
2000: Córdoba; Ibarra, Bermúdez, Traverso, Matellán; Serna, Battaglia, Basuáldo, Riquelme; Delgado, Palermo. Técnico: Carlos Bianchi.
2003: Abbondanzieri; Perea, Shiavi, Burdisso, Clemente Rodríguez; Cascni, Battaglia, Donnet, Cagna; Iarley, Schelotto. Técnico: Carlos Bianchi.