A Copa de 2010 na África do Sul foi uma montanha-russa de emoções na vida dos paraguaios, a começar pelo acontecimento com um de seus principais jogadores, Salvador Cabañas, que não disputou a competição e nunca mais foi o mesmo após sofrer um atentado em um bar no México onde levou um tiro na cabeça.
Apesar dessa perda para o time, estavam lá com a última geração forte dos Guaranis: Haedo Valdez, Roque Santa Cruz, Cáceres, Lucas Barrios, o goleiro Villar, dentre outros nomes conhecidos, como o personagem central desse texto: Óscar Cardozo. Contudo, a hora de falar dele ainda vai chegar!
Caindo no Grupo F, com a atual campeã Itália, além de outros dois concorrentes de menor expressão como Nova Zelândia e Eslováquia, a seleção alvirrubra fez sua parte: empatou com a Azurra, venceu a Eslováquia e, já quase classificado, empatou com a Nova Zelândia, tropeço que tiraria a primeira colocação do Paraguai, não fosse a vitória eslovaca contra os italianos, a maior zebra daquele torneio.
Nas oitavas, duelo contra os japoneses, que até aquele momento apresentavam um futebol até melhor, no entanto os paraguaios sempre foram marcados pela garra e pela força defensiva. Dessa maneira, seguraram o 0 x 0 e levaram a decisão para os pênaltis, vencendo por 5 x 3.
Dia 3 de julho, noite de frio no inverno de Johanesburgo, capital da África do Sul, no estádio Ellis Park, tudo pronto para a bola rolar. O Paraguai enfrentava a grande favorita Espanha pelas quartas de final.
Camisa tradicional, calção branco, meia branca, os Guaranis enfrentando a Espanha, que naquele mundial usou na maioria dos jogos um uniforme azul-escuro (para mim, uma das camisas mais bonitas da história).
O jogo era equilibrado, mas sem tantas chances de gol. A verdade é que essa copa foi a pior que vi tecnicamente e a Espanha, que foi a melhor seleção da minha geração, não jogou 10% do que podia naquele torneio.
Até que, no segundo tempo, aos 12 minutos, Piqué agarra Cardozo na área, ele mesmo. Pênalti indiscutível, insofismável e cristalino. Como diria Milton Neves, esse foi muito PÊÊÊNALTI!!!
Nos pés do mesmo Óscar Cardozo, a chance do Paraguai fazer história e avançar para a semifinal, onde enfrentaria a Holanda. Mas Cardozo erra, chuta firme e forte, porém, quase no meio, Casillas agarra e nem dá rebote. O mundo paraguaio começa a desabar.
Um minuto depois, Villa é derrubado e é pênalti para os espanhóis. Após ter que bater duas vezes, Xabi Alonso perde, Villar defende. Entretanto, mesmo essa sobrevida parecia pouco.
A Espanha dominou o jogo a partir daí e pressionou, até que aos 37 minutos da segunda etapa, Iniesta foi o gênio que é, limpou dois e deixou Pedro livre. E na transmissão dava para ouvir a agonia da torcida. O som da bola batendo na trave e voltando para Villa chutar, a bola bater novamente nas duas traves até entrar. O barulho dos postes parecia cada haste que sustentava o sonho Guarani se quebrando, era o fim.
Roque Santa Cruz ainda teve uma chance clara nos acréscimos, porém Casillas defendeu. Parecia que estava escrito, o pênalti de Cardozo era a resposta de que um campeão estava ali e um quase estava do outro lado.
Sabe que agora, com mais experiência de futebol e de vida, nunca mais julgo um jogador por um erro em decisão. É pressão que nenhum salário ou fama reduz, é a alegria de um povo na ponta do pé. Às vezes pesa, às vezes dói, e essa dor, Cardozo demonstrou ao desabar e chorar com o apito final, consolado por companheiros e pelo Técnico Tata Martino. Lágrimas de quem sabe o tamanho que aquele pênalti tinha, era um gigantesco desafio, mas no futebol assim como na vida, às vezes não estamos prontos para enfrentar certos gigantes.