Bicampeão Mundial com a Seleção Argentina em 78 e 86, Daniel Passarella se tornou técnico no final dos anos 90 já pelo River Plate conquistando alguns campeonatos argentinos. Conhecido por seu jeito rígido desde sempre, Passarella chegou a seleção albiceleste após a Copa de 1994 e "proibiu" homossexuais (como se isso fizesse sentido). Além disso, impôs exames para detectar drogas e resolveu que os cabeludos cortassem suas madeixas: ''Os jogadores se distraem com os cabelos grandes. E as tiaras são perigosas', disse ele, à imprensa argentina.
Craques como Coudet, Ortega e Batistuta acataram a decisão do chefe e apararam seus cabelos. Por outro lado, outros dois foram contrários: Redondo e Caniggia.
Passarela e Redondo foram desafetos durante todo o período. Para o jogador, ser convocado e pedir para cortar o cabelo era uma coisa. Não ser convocado por conta da cabeleira, outra. Na época no Tenerife da Espanha, óbvio que todos queriam o meia na seleção por sua capacidade técnica. Inclusive, o presidente Carlos Menem alimentou os debates: ''A decisão de Passarella é tática. O cabelo é despiste''. O ''E você? Cortaria ou não?'' ardia em Buenos Aires. Redondo não cortou. Entre a Copa de 1998 ou os cabelos, preferiu os cabelos e disse não ao Mundial da França.
Caniggia, por outro lado, começou 1996 vivendo sua melhor fase. Cansava de fazer gols pelo Boca e desabafar: ''Estou jogando mal, não? O cabelo me atrapalha. Estou cego''.
Desse modo, quem tomou seu partido foi Maradona. De volta à Argentina em 1995, pintou parte do cabelo como protesto pela postura de Passarella, antigo desafeto.
As brigas só diminuíram quando uma tragédia ocorreu: Passarella perdeu o filho de 18 anos, em um acidente de carro. Em respeito ao treinador, Maradona tirou a faixa colorida da cabeça. Depois disso, mais flexível, o técnico recebeu Caniggia em sua casa e aceitou convocá-lo, contudo o atacante ficou fora do Mundial de 1998, por lesão.
Fernando Redondo manteve o cabelo comprido como uma marca registrada ao longo de toda a carreira no futebol e ficou fora das copas de França ,e da Coréia e Japão, dessa vez, por opção do então técnico Marcelo Bielsa.
Os comportados de Passarella caíram nas quartas-de-final daquela Copa: 2 a 1 para a Holanda, com o gol decisivo, dos mais lindos da história, marcado por Bergkamp, aos 44 minutos do segundo tempo. A Argentina pegaria o Brasil na semifinal.