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Técnicos brasileiros em seleções latino-americanas

Relembre carreiras alternativas de treinadores brasileiros

05/02/2024 às 07h00 Atualizada em 05/02/2024 às 07h17
Por: Felipe Siles
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Reprodução
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Ao deparar com Antonio Carlos Zago comandando a Bolívia no Pré-Olímpico me lembrei da carreira de outros treinadores brasileiros que já comandaram seleções latino-americanas nas décadas 1990 e 2000, quando comecei a acompanhar o futebol na minha infância e adolescência. Em matéria de treinador, a gente entendia que o brasileiro estava entre os melhores. Afinal, Telê Santana era lendário, comandou uma seleção brasileira nos anos 1980 que fez história mesmo sem ganhar a taça, e foi bicampeão do mundo com o São Paulo vencendo simplesmente o Barcelona de Cryuff (1992) e o Milan de Baresi (1993).

No ano seguinte, 1994, Carlos Alberto Parreira levantava a taça de campeão do mundo pela seleção brasileira enquanto um jovem Wanderley Luxemburgo começava a ganhar holofotes por seu brilhante trabalho no Palmeiras da Parmalat. Esse período de brilho dos treinadores brasileiros ainda durou até os anos 2000, com Felipão fazendo bons trabalhos nas seleções brasileira e portuguesa. E, na minha opinião, esse prestígio internacional dos técnicos brasileiros durou até as passagens apagadas de Luxemburgo pelo Real Madrid e do próprio Felipão no Chelsea.

Esses títulos tão importantes conquistados por treinadores brasileiros não despertaram muito interesse da maioria dos gigantes clubes europeus, que preferiam importar nossos jogadores. A única exceção eram os clubes portugueses, que chegaram a contratar diversos técnicos brasileiros na época (Paulo Autuori, Abel Braga, entre outros). Bom lembrar que o treinador Otto Glória já tinha sido treinador da seleção portuguesa na década de 1960.

O treinador brasileiro não despertou interesse dos principais centros europeus, mas continuou chamando a atenção de outros centros mais alternativos. Parreira, só para citar um exemplo, comandou diversas seleções mais alternativas em Copas: Kuwait (1982), Emirados Árabes (1990), Arábia Saudita (1998) e África do Sul (2010). África do Sul também foi onde trabalhou Joel Santana, rendendo o meme "in the right, in the left", debochando do inglês do técnico carioca, que depois até assumiu a piada na gravação de um famoso comercial de shampoo. Japão, África e Oriente Médio eram alguns desses centros que durante muitos anos foram muito atrativos para o treinador brasileiro.

Mas esta coluna é para relembrar passagens de treinadores brasileiros que, assim como Antonio Carlos Zago, treinaram seleções latino americanas. Vamos relembrar esse período das décadas de 1990 a 2000, quando o treinador brasileiro gozava desse alto prestígio em diversos mercados internacionais, diferente de hoje, que tem dificuldades de se firmar até mesmo no mercado interno que vai cada vez mais sendo dominado por técnicos portugueses e argentinos. Escolhi quatro treinadores com passagens marcantes por seleções latino-americanas nesse período: René Simões (Jamaica 1994-2000 e 2008), Paulo César Carpegiani (Paraguai 1996-1998), Alexandre Guimarães (2000-2002 e 2005-2006) e Paulo Autuori (Peru 2003-2005).

René Simões
Jamaica: 1994 a 2000 e 2008
Muito antes de se tornar uma espécie de profeta (o então técnico do Atlético-GO disse em relação a Neymar "estamos criando um monstro"), René Simões se tornou um ícone, um ídolo do futebol jamaicano. René teve uma carreira bem alternativa, com passagens por seleções de base e clubes médios e pequenos do Brasil e, antes de assumir a Jamaica, desbravava clubes no Oriente Médio, assim como vários de seus compatriotas. René se tornou um ídolo jamaicano por provocar uma verdadeira revolução no futebol local. Fez um intenso trabalho de scouting e foi importante para profissionalizar jogadores amadores que atuavam em outras profissões, além de naturalizar ingleses filhos de jamaicanos, que não tinham chance na seleção inglesa. Além disso fez várias parcerias com empresas que patrocinavam jogadores específicos da seleção, trazendo visibilidade e recursos para o futebol. Conseguiu se classificar para a Copa do Mundo de 1998, mas deu azar de cair no complicado grupo com Argentina e Croácia, e mesmo tomando uma goleada de 5x0 da Argentina, ainda ficou à frente do Japão, lanterna do grupo, de quem venceu por 2x1, dois gols de Whitmore. René, que também comandou a seleção brasileira feminina em 2004, ainda voltou a ser técnico da Jamaica em 2008, mas não conseguiu classificá-la para a Copa do Mundo de 2010.

Paulo César Carpegiani
Paraguai: 1996 a 1998
Começou muito bem a sua carreira de treinador. Em 1981, havia acabado de se aposentar como jogador do Flamengo e se tornou auxiliar do então técnico Dino Sani. Com a demissão de Dino Sani, Carpegiani assumiu o comando do clube e foi simplesmente campeão da Libertadores e do mundo naquele ano. Depois disso, não manteve o nível de sua ascenção meteórica (acho que nem tinha como) e foi acumulando passagens por diversos clubes brasileiros e estrangeiros. Após dois trabalhos no Cerro Porteño entre 1991 e 1994 acaba se tornando técnico da seleção do Paraguai, também com a missão de classificar para a Copa do Mundo de 1998. Mas ele acaba fazendo mais do que isso, comanda uma verdadeira campanha histórica, e leva o time para as oitavas de final do torneio, perdendo para a seleção que viria a ser a campeã daquela edição, a França, em jogo duríssimo decidido apenas na prorrogação, 1x0 com gol de Laurent Blanc.

Aquela seleção contava com jogadores históricos como Chilavert, Arce e Gamarra e possuía uma defesa muito forte. Naquele torneio Gamarra foi considerado um dos melhores zagueiros do mundo e bateu recordes de jogos sem cometer faltas ou levar cartões amarelos. Esse sucesso como treinador do Paraguai acabou chamando atenção do São Paulo, onde conseguiu fazer boa campanha, parando nas semifinais do Campeonato Brasileiro de 1999 nas mãos do goleiro Dida do Corinthians. Mas a passagem pelo Morumbi acabou apagada, ofuscada por escândalos como a adulteração de idade do atacante Sandro Hiroshi e o caso do goleiro Roger barrado do time por pousar na revista G-Magazine. Depois disso rodou por vários times, tendo altos e baixos.

Alexandre Guimarães
Costa Rica: 2000 a 2002 e 2005 a 2006
O caso do alagoano de Maceió Alexandre Guimarães é um pouco diferente dos anteriores. Isso porque ele não teve histórico no futebol brasileiro, já que se mudou aos 11 anos para a Costa Rica, por conta do trabalho de seu pai. Se profissionalizou por lá, atuando como meia, sagrando-se tricampeão costarriquenho com o Deportivo Saprissa (1982, 1988 e 1989). Naturalizado costarriquenho, atuou como jogador na seleção do país entre 1985 e 1990, chegando inclusive a atuar na Copa do Mundo de 1990. Após uma passagem como treinador do mesmo Deportivo Saprissa, de 1999 a 2000, acabou assumindo a seleção e conseguindo o feito de fazer o país se classificar para a Copa de 2002, após 12 anos fora do torneio.

A Costa Rica caiu no mesmo grupo que o Brasil, e empatou em número de pontos com a segunda colocada Turquia, ficando fora da fase seguinte pelo saldo de gols. Após a Copa, acaba saindo do cargo, mas reassume 2005, mais uma vez classificando a seleção para a Copa do Mundo, em 2006, mas acaba ficando em último lugar em um grupo com Alemanha, Equador e Polônia. Depois disso, Alexandre Guimarães continuou sua carreira alternativa, tendo atuado como técnico da seleção do Panamá de 2006 a 2008 e voltando a dirigir o Deportivo Saprissa em 2011. Apesar de pouco falado e lembrado aqui no Brasil, acabou se firmando no mercado latino-americano, sendo atualmente (2024) treinador do América de Cali da Colômbia.

Paulo Autuori
Peru: 2003 a 2005
Paulo Autuori é um treinador que chama a atenção por não ter tido uma carreira como jogador de futebol, o que é um pouco incomum no cenário brasileiro. Acabou chegando no futebol pelo meio acadêmico, sendo formado em educação física pela Universidade Castelo Branco, administração esportiva na PUC-RJ, além de ter feito curso de treinador de futebol pela UERJ. Foi levado para Portugal na década de 1980 para ser auxiliar de Marinho Peres, mas acaba desenvolvendo uma sólida carreira em terras portuguesas, comandando Vitória de Guimarães (1986-1987, 1989-1990 e 2000), Nacional (1987-1989), Marítimo (1991-1995) e Benfica (1996-1997). Acaba voltando para o Brasil para assumir o Botafogo e se sagrar campeão brasileiro em 1995 e campeão da Libertadores pelo Cruzeiro em 1997. Depois dessa ascenção meteórica, acaba rodando por vários clubes do Brasil sem o mesmo sucesso e começa a sua carreira alternativa no mercado sul-americano.

Autuori se sagra bi-campeão peruano pelo Alianza Lima em 2001 e Sporting Cristal em 2002. Veio o convite para dirigir a seleção peruana entre 2003 e 2005. Não foi o primeiro brasileiro no cargo, já que tivemos Didi à frente do Peru na Copa do Mundo de 1970. Apesar de ter feito campanha fraca nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, Autuori teve o mérito de renovar a seleção, convocando jogadores jovens na época, como Farfán e Paolo Guerrero. Após se desentender com a federação peruana, ele acaba voltando para o Brasil e sagra-se novamente campeão da Libertadores, agora pelo São Paulo em 2005.

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